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Sobre novos idiomas e realizar sonhos

Felipe Freitas 05/07/2022

Para te provar, preciso te contar um pouco da minha história.

Lembro-me de ouvir quando criança, com um certo grau de insistência dos mais velhos, que estudar um novo idioma me ajudaria a resolver muitos dos meus problemas futuros.

Certamente, naquele contexto, eu sequer imaginava o quanto isto faria sentido em minha vida, mas de uma coisa eu tinha certeza, alguma coisa eles sabiam a respeito que eu ainda não sabia, então era melhor não contrariar e seguir o conselho.

O tempo passou e mais tarde, como um bom adolescente, apesar de ter uma certa resistência aos estudos, o aprendizado de novas línguas sempre foi algo que me interessou. Ok, talvez não o estudo em si, mas porque saber um novo idioma me possibilitava ter acesso às coisas legais da época: músicas internacionais, videogames, smartphones, tablets, notebooks, chats, Messenger (entreguei a idade agora), e outras coisas mais.

Ao final da adolescência o primeiro “push” inesperado da vida: uma transferência urgente no emprego do meu pai fez com que ele e toda a família precisasse mudar para o México.

Lembro-me que entre o recado da empresa e a mudança tivemos tempo suficiente para fazermos exatamente 8 aulas de espanhol. Queridíssima professora Nancy. Quanta paciência!

Se teve uma coisa que aprendi muito bem nas aulas de espanhol é que falar para alguém, em espanhol, que você esqueceu o terno no ônibus, pode soar como algo pavoroso para nós falantes da língua portuguesa, e que uma simples corrida ou uma simples ligação, pode se tornar algo criminoso a depender do contexto o qual você fala (só os falantes de espanhol entenderão o que quero dizer).

Mas enfim, com algumas aulas, algumas dicas valiosas da professora Nancy sobre o que dizer e o que não dizer, uma pitada de ansiedade e um balde de ousadia, lá estávamos nós em um país diferente, aprendendo o resto do que não aprendemos nas aulas “na marra” como diriam alguns.

Deu tudo certo (gosto de pensar assim), e além do aprendizado em espanhol, meus pais também me matricularam em uma escola de inglês, por lá onde eu tive aulas com professores nativos da Australia, Reino Unido e Estadunidenses. Passado alguns anos voltamos a morar no Brasil e decidi iniciar a faculdade de direito.

Mas logo, direito? Você tem certeza? O que você vai fazer com os idiomas que aprendeu?

Perguntas que me foram feitas e que eu não sabia muito bem responder na época, mas decidi seguir adiante, pois quem conhece sabe que é mais fácil conseguir fazer uma mula falar do que tentar fazer um capricorniano mudar de ideia. Quero apenas deixar claro que não acredito em signo, mas pelo pouco que aprendi a respeito, o fato de ser capricorniano me possibilita justificar muitos de meus defeitos.

Enfim, decidi cursar direito, mesmo tendo ouvido diversos conselhos de que o curso não me possibilitaria utilizar muito dos idiomas que aprendi. Mas “ousadia e alegria” era meu lema. As duas palavras, inclusive, acabaram se tornando um dos hits da época.

De fato, durante a graduação, não havia muitos materiais nos idiomas que eu havia aprendido. Porém, tive a oportunidade de ter aulas de latim e ter acesso a alguns materiais em italiano, porém, nada que me levasse muito longe em uma conversa além de um “oi” e “muito obrigado”.

Vencida a graduação, atuando como advogado para um universo corporativo, me deparei com a necessidade de expandir meus horizontes de conhecimento na área de compliance, gestão e governança de dados. E foi exatamente aqui onde o fato de conhecer novos idiomas foi um diferencial em minha carreira, porque os melhores profissionais, materiais e cursos destas áreas só estavam acessíveis em outros idiomas, curiosamente, aqueles que eu havia aprendido ao longo de minha vida.

Conhecer outros idiomas me possibilitou estudar e participar de cursos em faculdades estrangeiras, comunicar com colegas e professores mais experientes mundo afora, expandir a cartela de clientes do escritório, prestando serviços para residentes em países estrangeiros, ler documentos, tratar de relações comerciais e resolver cases fora do território nacional diretamente com os interessados, dentre outras inúmeras práticas que a ausência de conhecimento de outros idiomas não me permitiria atuar.